O que é marketing jurídico: guia prático, histórico e estratégico para escritórios de advocacia
O termo “marketing jurídico” ganhou popularidade nos últimos anos, mas sua compreensão ainda gera dúvidas entre advogados e gestores. Afinal, o que exatamente caracteriza o marketing aplicado ao setor jurídico? Como ele se diferencia de outras formas de divulgação empresarial? E, sobretudo, como estruturar uma estratégia que seja eficaz sem ferir as normas éticas da profissão?
Para responder a essas perguntas, é essencial entender as origens, os marcos regulatórios, os objetivos e os canais envolvidos em uma comunicação profissional e eficiente. Esse artigo traz um panorama completo, com orientações práticas e foco em resultados para quem deseja se destacar no ambiente jurídico brasileiro.
Onde tudo começou
No Brasil, o marketing jurídico começou a ser debatido mais intensamente a partir da década de 1990, com a consolidação de grandes escritórios e o surgimento de um mercado mais competitivo. No entanto, sua regulação sempre enfrentou resistências éticas. O Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94) e o Código de Ética e Disciplina da OAB estabelecem limites claros para a publicidade na advocacia.
Por muito tempo, apenas divulgações informativas em revistas e jornais especializados, ou placas discretas na fachada dos escritórios, eram permitidas. Essa rigidez levou a uma cultura de discrição, em que promoção de serviços era vista como inapropriada.
O Provimento 94/2000 trouxe as primeiras diretrizes específicas sobre publicidade profissional, mas foi apenas com o Provimento 205/2021 que houve uma revisão ampla e significativa, alinhando o entendimento da OAB à realidade digital e permitindo maior liberdade de comunicação, desde que respeitados certos princípios.
O que define o marketing jurídico
Marketing jurídico é o conjunto de estratégias, ferramentas e práticas voltadas para o posicionamento, visibilidade e geração de autoridade de escritórios e profissionais da advocacia. Seu objetivo não é apenas atrair clientes, mas construir reputação, fortalecer relações e gerar valor por meio de uma comunicação clara, coerente e respeitosa com as normas da profissão.
Ao contrário do marketing comercial, que muitas vezes utiliza apelos agressivos e promoções, o marketing na advocacia deve ser educativo, informativo e institucional. A ética não é um detalhe: é a própria espinha dorsal.
O que diz o Provimento 205/2021
Publicado pela OAB Nacional, o Provimento 205/2021 substituiu o antigo Provimento 94/2000 e trouxe regras mais modernas e detalhadas. Entre os pontos principais:
- É permitida a presença de advogados e escritórios nas redes sociais, desde que o conteúdo não configure captação indevida de clientela.
- É vedado o uso de expressões como “o melhor advogado” ou “garantia de resultado”.
- Pode-se produzir conteúdo informativo, como artigos, podcasts, newsletters e posts sobre temas jurídicos.
- É autorizada a veiculação de anúncios pagos em mecanismos de busca e redes sociais, desde que respeitados os limites éticos.
O objetivo do Provimento é garantir um ambiente de comunicação profissional, livre de sensacionalismo e respeitoso com os valores da advocacia.
Canais mais utilizados no marketing jurídico
A aplicação do marketing jurídico se desdobra em vários formatos e plataformas. Entre os principais meios de divulgação estão:
- Website institucional: deve ser o centro da estratégia digital, com descrição clara das áreas de atuação, equipe e formas de contato.
- LinkedIn: rede essencial para relacionamento com outros profissionais, publicação de artigos e consolidação de autoridade.
- Google (SEO e Google Ads): ferramentas poderosas para posicionamento em buscas locais e por especialidade.
- Instagram e YouTube: usados com foco em educação jurídica e humanização da marca.
- E-mail marketing: excelente para relacionamento com clientes e divulgação de novidades.
Cada canal deve ser escolhido de acordo com o perfil do público e com o objetivo da comunicação. Escritórios que atuam no B2B, por exemplo, tendem a ter melhor performance em LinkedIn e SEO, enquanto aqueles com foco em pessoa física se destacam mais em redes sociais visuais e conteúdo de busca.
Como fazer um marketing jurídico efetivo
O primeiro passo é entender quem é o público que se deseja atingir. Escritórios que falam com empresas devem estruturar uma abordagem diferente daqueles que lidam com famílias, consumidores ou trabalhadores.
A partir disso, é essencial definir o posicionamento: qual a promessa de valor que seu escritório entrega? Por que alguém contrataria você em vez do concorrente? Quais são os diferenciais reais e percebidos?
Depois, é hora de escolher os canais, construir os materiais, definir uma rotina de produção e pensar em métricas para acompanhar o desempenho. Um bom plano de marketing jurídico inclui:
- Identidade visual consistente
- Site responsivo e otimizado
- Perfis ativos e bem cuidados nas redes sociais
- Produção de conteúdo útile relevante
- SEO para busca orgânica
- Campanhas pagas para atração e remarketing
Exemplos de aplicação
Imagine um escritório que atua com Direito Previdenciário. Sua estratégia pode incluir:
- Blog com explicações claras sobre aposentadoria, tempo de contribuição e revisões
- Posts em redes sociais com tiras explicativas e linguajar acessível
- Campanhas segmentadas em Google Ads para quem busca termos como “aposentadoria especial” ou “revisão da vida toda”
Ou um escritório empresarial com foco em startups:
- Artigos no LinkedIn sobre contratos de vesting, rodadas de investimento e LGPD
- Participação em podcasts ou eventos do setor de inovação
- Otimização do site para palavras-chave como “advogado para startup em São Paulo”
O que evitar a todo custo
Algumas práticas ainda ocorrem, mas devem ser evitadas, pois infringem o Provimento 205/2021 e podem gerar penalidades:
- Anúncios com promessas de resultado garantido
- Ofertas comerciais em redes sociais (“atendemos gratuitamente hoje”)
- Captação direta de clientes em grupos ou comentários
- Uso de depoimentos não autorizados
O marketing jurídico não é propaganda de massa. É uma construção de reputação baseada em conteúdo, consistência e conexão com o público.
Quando começar?
A resposta mais honesta: o quanto antes. O marketing é um trabalho de médio e longo prazo. Escritórios que começam agora podem colher resultados relevantes em seis meses. Aqueles que adiam correm o risco de ficar para trás em um mercado cada vez mais competitivo, digital e orientado por percepção de valor.
Mais do que permitido, o marketing jurídico é, hoje, uma necessidade para qualquer advogado que queira crescer de forma sustentável, com base em ética, autoridade e comunicação eficaz.