Por que entender as tendências do mercado jurídico é decisivo para o crescimento do seu escritório
O mercado jurídico passa por uma transformação profunda, impulsionada pela evolução tecnológica, mudanças regulatórias e novas expectativas de clientes e profissionais. Para quem lidera escritórios ou departamentos jurídicos, entender essas tendências não é apenas um diferencial competitivo, mas uma necessidade estratégica.
Por Rafael Gagliardi, sócio da LETS Marketing
Você já se perguntou como as tendências podem impactar a sua prática? Ou como antecipá-las pode ser o caminho mais seguro para manter sua operação sustentável e relevante? Entender as tendências do mercado jurídico significa ter clareza sobre onde investir, como estruturar a equipe e, principalmente, como se posicionar diante de um ambiente em constante mutação.
Antecipar mudanças: o segredo das bancas que crescem
O relatório de 2025 sobre o estado do mercado jurídico dos Estados Unidos, publicado pela Thomson Reuters e pela Georgetown Law, revela que os escritórios que mais crescem são aqueles que não apenas respondem às mudanças, mas as antecipam.
Nos últimos anos, a adoção de modelos de negócios inovadores, o investimento consistente em tecnologia e o foco na experiência do cliente se tornaram elementos determinantes de sucesso. Por exemplo, firmas que incorporaram ferramentas de automação e análise de dados ampliaram sua produtividade, reduziram custos e criaram novas fontes de receita.
Esse movimento não é isolado. No Reino Unido, conforme o relatório Legal Trends da Clio, mais de 96% dos escritórios já utilizam alguma forma de inteligência artificial, seja para análise de contratos, seja para automação de documentos. Quem não acompanha essa dinâmica perde competitividade e, principalmente, oportunidades de atuação em novos nichos.
Por que a análise de tendências é uma competência essencial para advogados?
Analisar tendências é, antes de tudo, um exercício de inteligência estratégica. Trata-se de observar padrões emergentes, avaliar mudanças regulatórias, monitorar o comportamento da concorrência e, com isso, projetar os movimentos do mercado.
No jurídico, essa competência se manifesta na capacidade de perceber, por exemplo, o crescimento da demanda por proteção de dados antes da entrada em vigor da LGPD, ou a explosão de serviços relacionados ao ESG diante do aumento da regulação ambiental e social.
Empresas que dominaram esse tipo de análise foram capazes de reposicionar suas práticas, capacitar suas equipes e conquistar novos mercados antes dos concorrentes.
Para fazer isso bem, você precisa estabelecer processos contínuos de observação: acompanhar relatórios de tendências, participar de eventos estratégicos e manter uma escuta ativa sobre as demandas dos seus clientes.
A tecnologia como vetor central de mudança
Entre as tendências mais relevantes do mercado jurídico está a adoção acelerada de tecnologia. Ferramentas de inteligência artificial, automação de processos e análise preditiva já não são mais exclusividade de grandes bancas.
Segundo a pesquisa da Clio, 36% dos escritórios britânicos utilizam IA para automação de documentos e 29% para revisão contratual. Mais importante: 43% dos advogados relatam que a adoção de IA melhorou a qualidade do trabalho e a produtividade. Esse dado não deve ser ignorado.
O impacto vai além da eficiência operacional. Escritórios que investem em tecnologia conseguem oferecer respostas mais rápidas, ampliar a previsibilidade dos honorários e entregar uma experiência mais alinhada às expectativas de clientes cada vez mais exigentes.
Se você ainda não estruturou um plano de adoção tecnológica, pergunte-se: quais tarefas repetitivas podem ser automatizadas na minha operação? Como posso liberar tempo da equipe para atuar em atividades mais estratégicas? Como garantir que minha banca esteja alinhada com os novos padrões do mercado?
A mudança no perfil dos clientes e o desafio de oferecer mais valor
O comportamento do cliente jurídico mudou. Ele quer mais agilidade, clareza nos preços e um relacionamento próximo, baseado em confiança e transparência.
Estudos mostram que 45% dos clientes ainda preferem o contato tradicional por telefone, mas 43% já se sentem confortáveis em interagir por meio do site do escritório e 42% aceitam chatbots como canal de atendimento.
Esse dado é revelador: quem limita sua operação aos canais tradicionais perde a oportunidade de criar um relacionamento mais dinâmico e de construir uma presença digital sólida.
Além disso, a demanda por previsibilidade nos honorários cresce rapidamente. O modelo de cobrança por hora dá lugar a estruturas fixas ou híbridas. No Reino Unido, 54% dos escritórios indicam que pretendem ampliar o uso de honorários fixos, justamente para atender clientes que desejam clareza sobre os custos antes de contratar.
Para o seu escritório, essa tendência representa um convite à revisão do modelo de negócios: como oferecer previsibilidade sem comprometer a rentabilidade? Quais serviços podem ser estruturados de forma modular, permitindo pacotes ou valores fechados?
Modelos alternativos de remuneração: o fim do monopólio da hora
A adoção de modelos alternativos de precificação é uma tendência irreversível. No Brasil, esse movimento avança de forma mais gradual, mas já é perceptível em nichos como startups e investidores, que demandam previsibilidade e eficiência.
O modelo de honorários fixos amplia a confiança do cliente, reduz o atrito na negociação e pode gerar fluxos de receita mais estáveis. Porém, exige uma gestão mais rigorosa da produtividade e uma cultura orientada a processos, além da capacidade de projetar, com precisão, o esforço envolvido em cada tipo de demanda.
Não se trata apenas de mudar a forma de cobrar, mas de reorganizar a entrega de valor, usando tecnologia, processos bem definidos e métricas claras de eficiência.
O impacto da inteligência artificial na redefinição das competências jurídicas
A ascensão da inteligência artificial no Direito está mudando não só os processos, mas também as competências exigidas dos advogados.
Hoje, profissionais que combinam domínio técnico com habilidades de gestão, análise de dados e comunicação digital são mais valorizados. O tradicional perfil do advogado exclusivamente técnico dá lugar a profissionais multidisciplinares, capazes de liderar equipes, interagir com sistemas complexos e oferecer uma visão estratégica ao cliente.
Esse movimento impacta diretamente os processos de recrutamento e desenvolvimento de talentos. O relatório da Thomson Reuters destaca o aumento das contratações de profissionais experientes e a redução do foco em perfis exclusivamente juniores. Além disso, cresce a adoção de estruturas de sócios em dois níveis, ampliando a flexibilidade organizacional.
Se o seu escritório ainda estrutura o desenvolvimento de talentos com base em modelos tradicionais, talvez seja hora de refletir: como preparar minha equipe para esse novo perfil de atuação? Quais competências técnicas e comportamentais são prioritárias neste contexto?
O cenário macroeconômico e o papel estratégico dos advogados
O mercado jurídico não está isolado da economia global. A expectativa para 2025, conforme o relatório da Thomson Reuters, inclui riscos associados à desaceleração econômica e à instabilidade política. Paradoxalmente, esses cenários de incerteza podem aumentar a demanda por serviços jurídicos, especialmente em áreas como compliance, contencioso estratégico e proteção de dados.
Entender as tendências significa, portanto, antecipar os efeitos macroeconômicos sobre a sua carteira de clientes e estruturar a oferta de serviços de forma preventiva.
Por exemplo, escritórios que monitoram o ambiente regulatório e oferecem diagnósticos preventivos de riscos tributários ou trabalhistas não apenas geram novos negócios, mas fortalecem a relação com os clientes, que passam a ver o advogado como um parceiro estratégico, não apenas como um solucionador de problemas.
Como estruturar um processo de monitoramento de tendências no seu escritório
Entender tendências é uma competência que pode – e deve – ser estruturada como um processo contínuo. Algumas práticas fundamentais incluem:
Definir objetivos claros: quais tendências são mais relevantes para o seu nicho? Tecnologia? Regulação? Modelos de remuneração?
Criar uma rotina de coleta de informações: leitura sistemática de relatórios, participação em eventos, análise de cases internacionais.
Analisar e interpretar dados: identificar padrões e avaliar a aplicabilidade ao contexto do seu escritório.
Desenvolver cenários futuros: projetar como as tendências podem impactar a operação nos próximos anos.
Implementar ajustes estratégicos: alinhar processos, estrutura e comunicação com as mudanças identificadas.
Esse processo deve envolver todas as áreas da banca, promovendo uma cultura organizacional orientada à inovação e à adaptação contínua.
Você está preparado para transformar tendências em oportunidades? O seu escritório já possui processos estruturados para captar sinais de mudança e reposicionar sua estratégia com agilidade?
Entender as tendências do mercado jurídico não é um exercício acadêmico, mas um imperativo estratégico para quem quer liderar, inovar e construir relevância em um setor cada vez mais competitivo e orientado por dados.